Manuscritos medievais

Em 1964 a Universidade de Brasília adquiriu três extraordinários códices pergamináceos portugueses do séc. XIV, datados pelo eminente paleógrafo Pedro de Azevedo. Identificados como Livro das Aves, Diálogos de São Gregório e Flos Sanctorum, essas preciosidades são uns dos primeiros manuscritos em português arcaico.

A Universidade de Brasília comprou esses pergaminhos, por intermédio do professor Nelson Rossi, da senhora Cremilda de Carvalho e Silva, viúva do excelso filólogo, linguista e professor Serafim da Silva Neto. Segundo esse, alguns anos antes de 1925, os códices foram adquiridos em Vila do Conde pelo ilustre intelectual português Jorge de Faria. Daí passaram às mãos do Serafim da Silva Neto (SILVA NETO, 1956).
Logo após a UnB comprar esses importantes manuscritos aconteceu o golpe militar de 1964, o que obrigou o professor Nelson Rossi, antigo catedrático de Língua Portuguesa da Universidade Federal da Bahia, a levá-los consigo para Salvador. Esses códices estiveram com ele por 8 anos, só retornando à Universidade de Brasília em 1972 (MACHADO FILHO, 2009). Desde então, esses pergaminhos permanecem na sessão de Obras Raras da Biblioteca Central da Universidade de Brasília.

O códice do Livro das Aves é a única versão portuguesa deste tratado.”Traduzido, segundo tudo indica, do primeiro livro de De bestiis et aliis rebus, do pseudo Hugo de São Vítor, provavelmente da autoria de Hugo de Folieto, é estruturado em “tratados” autônomos, onde se discorre sobre determinada ave, apresentando suas virtudes ou defeitos com a simbologia correspondente, aplicável ao homem” (ROSSI, 1965)

O pergaminho do Diálogos de São Gregório é um dentre três códices existentes em língua portuguesa. Escrito pelo Papa Gregório é dedicado à rainha lombarda Teodolinda e discorre sobre os milagres dos padres santos da Itália, aparições de mortos e a experiência religiosa de São Bento (SILVA NETO, 1950).

O manuscrito do Fos Sanctorum, segundo o professor Machado Filho, trata-se de um codex unicus, pois “os documentos relativos a narrativas de vidas de santos remanescentes nas bibliotecas portuguesas não parecem associar-se à mesma tradição textual a que teria pertencido o Flos Sanctorum” (MACHADO FILHO, 2019). Sua narrativa discorre sobre um conjunto de biografias dos padres, santos, servos e beatos proclamados pela Igreja Católica.

É monumental a riqueza histórica, filológica, artística e filosófica dos manuscritos medievais portugueses da Universidade de Brasília, que são estudados e admirados por profissionais e estudantes de diversas áreas do conhecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SILVA NETO, Serafim da. Diálogos de São Gregório. Coimbra: Atlântida, 1950.

SILVA NETO, Serafim da. Textos medievais portugueses e seus problemas. Rio de Janeiro: MEC/Casa de Rui Barbosa, 1956.

MACHADO FILHO, Américo Venâncio. Flos Sanctorum. In: TEODORO, Leandro Alves (Org.). Obras pastorais e doutrinárias do mundo ibérico. Banco de dados (Online). 2019.
Disponível em: (https://umahistoriadapeninsula.com/flos-sanctorum/). Consulta em: 09/03/2020.

MACHADO FILHO, Américo Venâncio. Um Flos Sanctorum trecentista em português. Brasília: Editora UnB, 2009.

ROSSI, Nelson; Mota, Jacyra; MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia; Vera Sampaio. Livro das aves: edição e glossário. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1965.